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Noticia Arquivada

Pecém vai regular o crescimento do Ceará

Entrevista:

O secretário de Infra-estrutura do Ceará, Adail Fontenele, fala ao O POVO sobre os planos do atual Governo para garantir uma boa logística de transportes diante do crescimento econômico do Ceará.

Nas palavras do secretário de Infra-estrutura do Ceará, Adail Fontenele, o Pecém vai regular o tamanho do crescimento do Ceará, estimulado por grandes empreendimentos como siderúrgica e refinaria. Até transformar-se, de fato, em um complexo industrial nas proporções anunciadas governo após governo, um leque de desafios, entre eles, o de garantir o perfeito escoamento da produção utilizando diferentes tipos de transportes.

Ainda não existe um projeto fechado nesse sentido, mas Fontenele adianta a feitura de um Plano Diretor de Logística para o Estado. Em entrevista ao O POVO, o secretário fala do potencial do transporte marítimo, reforça o papel da Transnordestina, comenta as idéias de um aeroporto específico de cargas no Pecém e cogita até a construção de uma “cidade” para abrigar os desapropriados do Pecém.

OPOVO – Como o Governo do Ceará está planejando a questão logística de escoamento de produção com a chegada de grandes empreendimentos como refinaria e siderúrgica no Pecém?

Adail Fontenele – Existe uma preocupação grande nessa área pois estamos trabalhando em todos os modais de transportes. A gente teve participação efetiva no plano de logística e transportes do Governo Federal. Procuraram ouvir todas as unidades da federação e fizeram um seminário aqui com a gente. E a gente tem se preocupado realmente com todos os setores da área de transportes. É tudo muito focado no crescimento que a gente está apostando que o Ceará vai ter já, já. O principal meio de transporte que vai mudar a característica da economia cearense, é o marítimo, por meio do Porto do Pecém. O Governo Federal também, através da Secretaria Especial de Portos, vem tentando equacionar problemas até seculares em diversos portos do Brasil. Nós temos o porto público e o privativo, como é caracterizado o Porto do Pecém, feito pelo Governo, mas que está lá e não é administrado com a filosofia de porto público. Lá no Porto do Pecém a operação é diferenciada. Você não vê capatazes que fazem cabotagem. É tudo mais mecanizado, digamos assim. O Porto do Pecém foi criado para uma coisa e nesses primeiros seis anos, em vez de ser um porto para atender a siderúrgica – que na verdade foi para isso que ele foi feito -, passou a ser um porto que está tornado o Ceará o maior exportador de frutas do Brasil, por exemplo.

OP – Concordo que o transporte marítimo vai ser potencializado. Mas eu me preocupo também com a forma de escoamento da produção prevista para o porto nos próximos anos, com a idéia de complexo portuário, com grandes empreendimentos…
Adail Fontenele – O grande indutor do desenvolvimento do Ceará, sem dúvidas, vai ser o Porto do Pecém. Para alimentar esse porto existem várias ações. Uma, que não é diretamente da responsabilidade do Governo do Ceará, é a Transnordestina. Hoje a Transnordestina está sendo trabalhada mais no sul do Ceará, de Missão Velha até Salgueiro e de Salgueiro vai para Suape (região portuária de Pernambuco). Outro ramal vai para o Piauí e o grande ramal do Ceará até o Pecém. O Governo do Ceará, a partir de janeiro, iniciará as desapropriações. A desapropriação é uma colaboração técnica que o Ceará está dando ao Governo Federal. No caso do Ceará serão 600 km construídos desde o Pecém até o limite sul do Estado. A ordem do Governo Federal é que esteja pronto em dezembro de 2010.

OP – E o senhor já tem o quantitativo de desapropriações?
Adail Fontenele – Temos uma estimativa ainda muito grosseira porque estamos aguardando uma licitação para contratar uma empresa para gerenciar isso. Mas será gasto algo em torno de R$ 12 milhões só com as desapropriação.

OP – O modo como as pessoas que moravam no entorno do Pecém na época da construção do porto foram desapropriadas ainda é muito criticado. O atual Governo vai acompanhar de perto essas desapropriações para que tudo corra bem, de forma menos traumática?
Adail Fontenele – O caso do Porto do Pecém merece uma análise diferente do que vai acontecer na Transnordestina. A Transnordestina é praticamente uma faixa, já a área do Complexo do Pecém é do tamanho de Fortaleza (diz apontando para o mapa na parede). Lá no Pecém existe muita gente que foi desapropriada, tem gente que está sendo agora. O Governo vai vender a um preço simbólico para a refinaria a área desapropriada, sem nenhum empecilho. O que for preciso para a refinaria se instalar vai acontecer.

OP – E cogita-se a construção de uma nova cidade, como foi feito com as famílias desapropriadas pela construção do Castanhão?
Adail Fontenele – Não uma cidade daquele tamanho (Jaguaribara), mas algum lugar próximo ao Pecém ou mais para os lados de Caucaia. Essas coisas estão sendo estudadas. A Seinfra é metida a chegar e fazer, mas também tem essa parte do sentimento humano e do respeito às pessoas. E tem que ter esse respeito, senão não dá certo. É um assunto sensível e importante. Alguns investidores se anteciparam e já compraram terrenos. E até agora não tive notícia de nenhum levante contra as ações que estão sendo tomadas no Pecém. Sei que a siderúrgica avançou muito na aquisição do terreno. A única parte que o Governo vai entrar de frente mesmo é o terreno da refinaria.

OP – Voltando para a Transnodestina…O senhor aposta em uma efetiva “volta das ferrovias” para ajudar no escoamento da produção do Ceará?
Adail Fontenele – Deixa eu falar uma coisa…tenho aqui como assessores e diretores, ferroviários que se apaixonam demais pelo que fizeram no passado. Todo mundo é muito apaixonado. O Brasil passou 20 anos sem fazer um trem. O último trem feito foi pela Seinfra, em uma obra no Cariri. O pessoal está chamando de metrô do Cariri. São 17 km de ferrovias que foram completamente remodeladas e a construção do trem foi em Barbalha. A mesma empresa que fez esse trem ganhou licitação para fazer o trem de Caucaia e ganhou licitação também em Pernambuco. Mas ferrovia, infelizmente, é um transporte que não conseguiu se pagar. No caso específico das cargas pode até se pagar. Mas é aí que entra a Transnordestina, como o subsídio do Governo do Estado e toda uma estrutura do Governo Federal.

OP – Então, as malhas secundárias ligadas à Transnordestina que o Governo pretente fazer não será também para cargas?
Adail Fontenele – O Ceará vai fazer mais para o transporte de passageiros. Tanto que tem esse do Cariri. Estamos fazendo um também em Sobral, mas ainda está sendo planejado.

OP – Mas para cargas, não…Só a Transnordestina….
Adail Fontenele – Isso. De trem, o Ceará pensa em transporte de passageiros.

OP – E no Pecém vai ser construído esse Terminal Intermodal de Cargas (TIC)? Como vai funcionar?
Adail Fontenele – É onde as empresas vão instalar seus conteineres vazios…

OP – Mas está desativado no momento…
Adail Fontenele – Sim, está. O Governo vai licitar agora uma primeira etapa. Essa obra que custará cerca de R$ 120 milhões.

OP – E qual a importância do TIC no escoamento da produção?
Adail Fontenele – Se você for ao Porto do Pecém vai ver um pátio lotado de conteineres cheios e uma multidão de conteineres vazios. E isso é ruim. A Receita Federal não concorda com isso. O TIC tem que ser tirado de dentro do porto. O Porto do Mucuripe, por exemplo, não tem um TIC porque não tem espaço, mas cada um resolveu o seu problema. Se você observar, a avenida Zezé Diogo vai ver armazéns e terrenos com containeres. O intermodal serve para guardar containeres e guardar cargas de um modo geral.

OP – Uma das reclamações que ouvi de empresas que escoam a produção pelo Porto do Pecém é que, principalmente no segundo semestre, o porto fica lotado com as frutas, que são perecíveis e têm prioridade…
Adail Fontenele – É…A fruta ninguém pode deixar para depois. Na verdade, a gente tem uma deficiência de tomadas frigoríficas e isso é um problema. Mas estamos reforçando agora com mais 264 tomadas no pátio e 525 nessa obra do Temut (Terminal de Múltiplo Uso, que teve ordem de serviço assinada ontem). Hoje, o transporte de conteineres é feito em um píer de 350 metros com 45 metros de largura. Daqui a dois anos teremos uma área de 115 metros de largura e vamos ter toda uma solução mais rápida. Hoje, nós fazemos 150 mil transportes de conteineres por ano e chegaremos a 750 mil daqui a dois anos.

OP – Então só daqui a dois anos esse problema será resolvido?
Adail Fontenele – Só mesmo daqui a dois anos, 18 meses. É uma obra cara, de R$ 350 milhões com recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do próprio Governo. O píer que está sendo utilizado hoje será utilizado pela siderúrgica para receber minério, carvão…

OP – Então o Pecém vai fortalecer transporte marítimo, vem aí a Transnordestina chegando ao Pecém…Existem planos de um aeroporto de cargas no Pecém?
Adail Fontenele – O aeroporto está sendo pensando. Mas eu não tenho autorização para dizer nada sobre ele porque não sei como vai ser, onde vai ser, quanto vai ser e quem vai fazer. Existe só uma idéia de que precisa ter um aeroporto de cargas. Na hora que a gente tiver a ZPE (Zona de Processamento de Exportação) em cinco, oito anos, sei lá…Isso é uma coisa que fatalmente vai precisar de um aeroporto de cargas, de hotel, vai ter que ter um apoio de tudo para funcionar.

OP – Mas o senhor acha que o Ceará está fazendo tudo na hora que deve ser feito ou estamos atrasados?
Adail Fontenele – Bom…Siderúrgica e refinaria eram para ter vindo para cá no tempo do governo do Tasso Jereissati. Esse porto funciona há seis anos e já era para ter começado com a siderúrgica instalada. Mas esse desenho do porto só existe pela demanda que se instalou com essas grandes obras. E tem investimentos de R$ 2 bilhões que devem ser aplicados no Pecém em oito anos. Lá na frente vamos comprar correias transportadoras e descarregadores de navios. Estamos no tempo tranqüilo para nós. O tempo para uma refinaria se instalar demora muito também.

OP – Mas esses empreendimentos, de siderúrgica e refinaria não são exatamente uma novidade no querer do Ceará. Já não deveria haver um projeto pronto para questão logística do Estado?
Adail Fontenele – Seria irresponsável fazer investimentos tão grandes sem a real certeza de que esses empreendimentos vêm. Quando entrei aqui na Seinfra vi matérias nos jornais falando da ociosidade do Porto do Pecém e hoje estamos engarrafando. Ainda bem que não tínhamos fechado um Plano Diretor para o porto, pois a cada semana muda.

OP – E se eu quiser ter acesso ao projeto do Governo de um modal de transportes para chegada desses empreendimentos? Existe esse projeto?
Adail Fontenele – Estamos fazendo um Plano Diretor de Logística para o Estado do Ceará.

OP – Então um projeto focado especificamente no escoamento da produção ainda não tem…
Adail Fontenele – Isso vai sair do Plano Diretor. E certamente vai usar a logística da Transnordestina e todos os modais. E também um grande programa rodoviário. Na próxima semana já estaremos dando ordem de serviço de 360 km de recuperação de estradas com recursos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Na verdade, vamos recuperar mil km de estradas e vamos implantar mais 500 km de estradas.

OP – O senhor considera o Ceará competitivo na questão logística?
Adail Fontenele – Eu não posso dizer que está do jeito que precisam porque senão não estaríamos aqui preocupados em correr com tantas variantes de investimentos nessa área. Estamos apostado na infra-estrutura que o Governo vai implantar. Nenhum setor da economia pode dizer que o estado fechou as portas. Qualquer investidor aqui está tendo resposta positiva. E a questão logística no momento não chega a ser um problema. E vou lhe dizer mais. O Ceará criou um instrumento de cativar essas pessoas que é própria Adece, o braço empresário do Governo. Os investidores estão vindo e certamente serão bem acolhidos. E um crescimento grande vai já acontecer. E o Pecém vai regular o tamanho do crescimento do Ceará.

(Fonte: O POVO – FORTALEZA – outros – 23/11/2008 – Editoria: Economia)